data-filename="retriever" style="width: 100%;">Atualmente, temos debatido sobre racismo estrutural, aquele que dissolve na estrutura a segregação e preconceito racial, tornando invisível as desvantagens associadas a cor. Discutimos sobre o racismo institucional, o qual enfatiza que não é apenas um fenômeno ideológico, mas também institucionalizado. Nos indignamos com o racismo diário, que envolve os discursos, gestos, olhares que colocam o(a) negro(a) no lugar de diferente, não pertencente. Pois essa semana, em rede nacional, o programa BBB trouxe representações, eu diria de "racismo recreativo", onde alguns assistem, como diversão, a dor do outro. Como expressou a autora do livro "Memórias da plantação", Grada Kilomba, 'que dor estar presa nessa ordem colonial'.
Óbvio, que assim como eu, muitos se sensibilizaram com as cenas e entenderam que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Há séculos que o racismo é o reflexo de uma realidade de bestialidade. É necessário usarmos todos os espaços para falar dessas violências absurdas, ainda presentes em nossa sociedade.
Como bem disse a participante do programa, seria impossível não estar cansada de sempre explicarem o óbvio. O racismo é uma doença naturalizada. Fácil entender isso quando a imensa maioria dos parâmetros de beleza, pureza, heroísmo são de pessoas brancas: nos filmes, livros, propagandas, cargos de poder, política, entre outros. São traumas que vão ficando tatuados ao longo dos tempos, dificultando que as pessoas negras façam conexões com essa sociedade que se pensa superior. É evidente que quando foi provocada uma dor, tem algo errado. Então, parem, pois não é brincadeira.
Claramente, o participante do BBB negou seu racismo (e parte do público que assiste também). Retrato do comportamento diário do "capaz, eu não sou racista, o outro é que é". Construir uma justificativa para o seu racismo disfarçado de "foi sem querer/não foi minha intenção/não foi nesse sentido" é o passo seguinte.
É hora de ler, buscar informações, ter empatia, debater respeitosamente, ouvir as pessoas negras, dar espaço. Enfim, vamos desconstruir esse racismo juntos, afinal, foi a branquitude que inventou ele. Parafraseando Chico Buarque quando cantou "Você que inventou a tristeza ora, tenha a fineza de desinventar" pedimos para todos nós, que inventamos o racismo, que tenhamos a dignidade de ajudar a desconstruí-lo.
A tensão provocada pelo episódio fez o choro ficar engasgado na garganta. Assistir dois participantes tremendo e tendo gatilhos nas suas lembranças desde a infância, quando vivenciavam piadas sobre seus cabelos, cor de pele, lugares que são ou não bem-vindos, foi angustiante.
#ficaadica: leia mulheres negras, que, certamente, refletem essa temática muito melhor do que eu tentei nesse curto espaço. Leia Djamila Ribeiro, Lélia Gonzales, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo Ângela Davis, Grada Kilomba, Audre Lorde, Bell Hooks. Certamente você terá oportunidade de aprender um pouco mais sobre escravidão, silenciamento, violência, abusos e desigualdades em suas obras e não repetirá bobagens por aí.
O texto de hoje foi inspirado no diálogo que ocorreu com minha filha, após assistirmos às cenas de racismo ao vivo no programa, o qual repete o cotidiano vivenciado na vida fora das telinhas. Como toda mãe, tenho muito orgulho das minhas filhas. Um dos maiores, é perceber que se tornaram pessoas engajadas em lutas na busca de justiça, em um país tão desigual.
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A Revolta da Vacina